CRB e CSA fazem história: a semana em que Maceió se tornou a capital do futebol brasileiro
- Globo Esporte
- há 57 minutos
- 2 min de leitura
Depois do CSA eliminar o Grêmio, o CRB derrubou o Santos. É a primeira vez que os rivais de Alagoas avançam juntos às oitavas da Copa do Brasil.

Existe um tema que, me parece, sempre costumou tomar grande parte do tempo dos torcedores brasileiros, pelo menos aqueles que passam suas tardes escorados nos balcões ou vigilantes nas esquinas: quais clubes podem ser considerados grandes?
Sempre fui um tanto radical quanto a isso, pois a grandeza não pode ser medida apenas pelo tamanho da torcida ou pelo números de títulos, então respondia, tentando um drible retórico definitivo: "Se os torcedores conseguem encher uma Kombi, o time é grande". Isso acontecia no bendito tempo em que eu também recorria aos balcões ou resguardava os cruzamentos do bairro, antes da Época da Peste : as redes sociais.
Apesar dos pesares, hoje me considero mais flexível. Acredito que time grande é aquele que consegue lotar o seu estádio e transformá-lo em um ambiente que nenhum outro lugar do mundo é capaz de repetir -- esta é a definitiva medida da grandeza. O estádio pode ter capacidade para duas mil ou setenta mil pessoas. Isso não vem ao caso. Em um país com a população do Brasil, em que mesmo times excluídos do famigerado grupo dos "grandes" conseguem arrastar multidões, nossa régua precisa ser torta.
Nenhuma pessoa que goste de futebol poderia dizer que o CRB não é grande quando o Galo da Praia entrou no gramado do Rei Pelé ontem para enfrentar o Santos de Neymar (aliás, há muitos conceitos de grandeza para se discutir nesta frase). Contava com uma recepção inflamável de sua torcida e prometia o enfrentamento que depois cumpriu à risca -- a grandeza está sobretudo na memória que algum pequeno torcedor regatiano levou para casa (e isso ninguém jamais vai conseguir mensurar).
A grandeza está também em atravessar um país do tamanho de um continente (ou vice-versa, os geógrafos que se entendam) para fazer como CSA e segurar o Grêmio em plena Arena. E contando com torcida visitante -- neste caso, a Kombi mais valente da história, que testemunhou o paredão quase soviético da força azul de Maceió em distantes gramados do Uruguai do Norte. O futebol representa, sobretudo, as fronteiras que inventamos.
Sempre fui um assíduo (talvez até mesmo obsessivo) ouvinte de rádio. Portanto, não esqueço do plantão esportivo que, no começo dos anos 1990, interrompia a narração da partida local para informar algo assim: "Gol do CRB. Pela terceira partida da segunda final do quarto returno da fase decisiva do Campeonato Alagoano, o CRB empata em 2 a 2 com o CSA". Ouvir os times no rádio era a minha medida de hierarquia. Para ser citado no rádio, era preciso ser muito grande. E aqui nem me refiro ao extinto Dínamo de Santa Rosa, patrono do meu imaginário.
Infelizmente, cresci. Acontece com todo mundo. Mas continuo ouvindo as vozes do rádio, às vezes apenas imaginadas, outras vezes absolutamente verdadeiras, que agora dizem: "Nesta semana, Maceió é a capital do futebol brasileiro". Daqui umas semanas, o plantão esportivo tem o dever de me anunciar que o sorteio apontou o clássico alagoano nas oitavas da Copa do Brasil. E aí, de fato, o Brasil será pequeno.
Comments