Ao todo, 19 passageiros morreram no acidente e 27 ficaram feridas.
Um ano de saudade. Um ano de dor. Um ano esperando por justiça. Essas foram as frases mais repetidas pelos familiares de Grazy Lima e José Ricardo da Silva (conhecido como Gugu), que moravam em Delmiro Gouveia, no Sertão alagoano. Eles estão entre as vítimas do acidente com um ônibus que saiu de Alagoas no dia 03 de dezembro de 2020, e caiu de um viaduto na BR-381 na cidade de João Monlevade, em Minas Gerais, no dia 04 de dezembro. O destino final seria a cidade de São Paulo.
As fotos de José Ricardo da Silva, que tinha 35 anos, estão espalhadas pela casa. Dona Edeilda da Silva, mãe de Gugu, como era carinhosamente chamado pelos parentes e amigos, guarda a carteira e algumas roupas deixadas pelo filho antes de embarcar para São Paulo, no ônibus da empresa Localima, em busca de uma oportunidade de emprego.
Quando Gugu viajou, dona Edeilda estava na reta final do tratamento de um câncer. Ela relatou que o último ano foi bastante difícil e a saudade foi tão forte, que ela desenvolveu um quadro de depressão.
“Ele era um menino muito bom. Chegava a tirar alimentos de casa para doar as pessoas mais necessitadas. O sonho dele era comprar uma casa para me dar, porque eu moro de aluguel. Quando ele saiu daqui ele disse que ia trabalhar pra realizar esse sonho. Dói muito, nunca vai passar essa dor, eu vou levar isso para sempre”, desabafou a mãe de Gugu.
Das lembranças do dia que recebeu a notícia da morte do filho até hoje, Edeilda relatou a tentativa de resgatar os pertences pessoais de Gugu junto aos responsáveis da empresa de turismo que transportou 46 pessoas no dia da tragédia. Ao todo, 19 passageiros morreram no acidente e 27 ficaram feridas.
“Queríamos de volta os pertences de Gugu. Soubemos que a empresa trouxe algumas bolsas dos passageiros e fomos lá em Mata Grande tentar encontrar, mas não conseguimos. Ele tinha roupas muito boas. A única coisa que conseguimos recuperar foi a carteira dele, com alguns documentos”, relatou Edeilda.
Gugu e a cantora Grazy Lima, também vítima do acidente em João Monlevade, viajavam juntos para São Paulo. Os dois eram amigos de longa data e já estavam com casa alugada na capital paulista com o intuito de começar uma nova vida. Antes de embarcar, eles gravaram um vídeo para um outro amigo que ficava em Delmiro Gouveia, prometendo-o um uísque no retorno a cidade.
Grazy deixou dois filhos em Delmiro Gouveia, sob os cuidados da mãe, dona Maria Nilda, 68 anos. As crianças têm 7 e 12 anos. A criança mais velha está com acompanhamento psicológico porque desenvolveu um quadro de depressão após a morte da mãe.
“Eles perguntam muito pela mãe e lamentam a todo momento a tragédia. Minha netinha vez por outra me pergunta, ‘porque aquele motorista matou a minha mãe? Ela era tão linda, vó!’. É de cortar o coração. Sinto muito falta dela, eu acordo com a lembrança e durmo com a lembrança que ela não está mais aqui com a gente”, descreveu dona Nilda.
Tanto a família de Grazy quanto a família de Gugu não receberam indenização ou algum apoio financeiro da empresa responsável pelo transporte dos passageiros de Alagoas a São Paulo. Adeílda e Maria Nilda constituíram advogado, mas até agora conseguiram somente o dinheiro do seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores (Dpvat).
“Estamos esquecidos. Recebemos o dinheiro do seguro, por meio de um advogado e nada mais. Nenhuma assistência da empresa, nem pra perguntar como as crianças estavam. Eu vivo com uma aposentadoria de 700 reais e Grazy era quem complementava a renda daqui de casa. Eu tomo remédios, meu neto também está tomando remédios e todas as outras coisas como alimentação. Está sendo muito difícil”, contou Maria Nilda.
Neste domingo (05), as famílias de Grazy e Gugu, participaram de uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário, Delmiro Gouveia, em homenagem aos amigos. “Todos os dias rezo o terço e peço a Deus que me ajude a cuidar dos filhos da minha Grazy e que ela esteja bem”.
O acidente
O ônibus da empresa Localima, saiu da comunidade Santa Cruz do deserto, em Mata Grande, às 9h do dia 03 de dezembro de 2020, com destino a cidade de São Paulo, capital. No trajeto, o ônibus de Turismo pegou passageiros na cidade de Água Branca, Pariconha e Delmiro Gouveia. Em todas as cidades alagoanas citadas acima a empresa mantinha um posto de atendimento.
No dia 04 de dezembro, por volta das 13 horas, o ônibus cruzava o viaduto da Ponte Torta, na BR 381, sentido Belo Horizonte, no município de João Monlevade, quando perdeu o freio em um trecho de subida. Segundo testemunhas, o motorista não conseguiu segurar o veículo e o ônibus começou a descer de ré.
No viaduto, o veículo já descontrolado, rompeu a grade de proteção da ponte e caiu de uma altura de 35 metros. No momento da queda, o motorista e outras cinco pessoas conseguiram pular do ônibus antes do veículo despencar.
A Polícia Civil de Minas Gerais, responsável pelo inquérito, vai apontar se o motorista é o responsável pelo acidente. Um ano após o acidente, o inquérito policial ainda não foi concluído.
Por: portalacta.com
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