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O que faz o analista de desempenho individual? Conheça função que virou febre e auxilia jogadores até da Seleção

  • Globo Esporte
  • 8 de abr.
  • 5 min de leitura

Profissionais ajudam atletas com reuniões e vídeos, em conjunto com os clubes; veja quanto custa e como é feito o serviço que se popularizou entre destaques de grandes equipe

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Cada vez mais, a rotina de trabalho dos jogadores de alto nível se estende além dos centros de treinamento e dos jogos. Nos últimos anos, uma nova função ganhou importância no dia a dia dos atletas: a do analista de desempenho particular, utilizada por alguns dos principais destaques do futebol brasileiro.


Se o mercado era mais restrito até alguns anos atrás, atualmente várias empresas prestam esse tipo de serviço e auxiliam os jogadores. Até de quem chegou à Seleção. Há também casos de analistas que trabalham individualmente, ajudando os atletas sem ter por trás a estrutura de uma companhia.


Um caso recente de jogador que tornou pública a importância desse trabalho é o do lateral-direito Wesley, do Flamengo e convocado recentemente pela primeira vez para a Seleção. O jovem contou que a análise foi fundamental para a virada de chave que teve em 2024 e acrescentou que atualmente sai das partidas cobrando vídeos dos lances. Companheiro dele, Léo Ortiz fazia sozinho esse tipo de observação, mas recentemente buscou acompanhamento com uma empresa.


— Eles pegam o vídeo do meu jogo, cortam todas as partes em que eu toco na bola e me mandam. Primeiro eu vejo e tenho que me analisar sozinho. Não sou analista, não entendo muito (risos). Um dia antes do jogo, eles me ligam para uma reunião, de que meus empresários participam. Um deles (Guilherme Siqueira) foi lateral e me ajuda bastante. Vendo de cima é mais fácil. Às vezes eu vejo que tinha oportunidade e não ia porque estava sem confiança. Comecei a parar e pensar, comecei a ver que foi dando certo. Essa foi uma das coisas que me ajudaram bastante — comentou Wesley em entrevista ao ge em março.


A rotina de um analista é variável, assim como a dos atletas, com sextas-feiras e sábados tendo as maiores demandas. Ela envolve preparação de material ao longo da semana, planejamento e, claro, assistir aos jogos de cada um dos clientes, seja pela televisão ou no estádio. O contato entre profissional e jogador fica apenas para o pós-jogo, nunca durante os confrontos. Uma plataforma utilizada por eles disponibiliza os vídeos e cortes das partidas até 12 horas após o apito final. Com esse material em mãos, tudo fica disponível em um drive.


Os valores para o trabalho de análise variam entre os prestadores. Em média, há quem cobre de R$ 300 a R$ 3,5 mil. Cada empresa ou profissional independente faz valores tabelados em pacotes que podem mudar de local para local, variando entre planos mensais, semestrais ou até anuais. Alguns cobram de acordo com o calendário, outros pelos serviços contratados e até pela experiência do analista que irá atender o cliente.


Diego Vieira é fundador e CEO da Outlier, uma das empresas que oferecem assessoria tática individualizada a jogadores no Brasil. Ele iniciou a carreira como jogador e se profissionalizou nos Estados Unidos. Depois, atuou dois meses em um clube da segunda divisão antes de seguir por outro caminho. Foi quando se tornou treinador que Diego passou a ter acesso a informações que nunca recebeu como atleta e enxergou um mercado.


O serviço começou de forma individual entre 2018 e 2020, quando ele fundou a empresa. Atualmente são 85 jogadores clientes e uma equipe de análise de desempenho com 16 profissionais. Diego já não faz mais as análises e fica no papel de gestão.


— Nós temos duas etapas principais. A primeira é fazer um diagnóstico geral do atleta. Pegamos vários jogos para entender quais pontos são positivos e queremos reforçar, e quais têm margem para evoluir. Fazemos o mesmo diagnóstico do modelo do treinador. O Filipe Luís no Flamengo requer certas coisas de um lateral, de um zagueiro, pelo tipo de jogo que quer. Em cada contexto de treinador, nós precisamos entender ao máximo a necessidade. Estamos focados no desenvolvimento individual, mas sempre seguindo referências do que a comissão faz no clube. A partir desse momento, temos rotinas semanais com os clientes. Vemos o que está sendo feito, como ele foi no último jogo dentro desses indicadores e como conseguimos prepará-lo para o próximo — explicou Diego.


Entre os clientes da Outlier, além de Wesley e Léo Ortiz, estão os recém-convocados para a Seleção Joelinton, Endrick e Andreas Pereira. Há também diversos outros nomes na Premier League e no futebol brasileiro. A empresa presta serviço ainda para clubes e treinadores.


— Quando comecei sozinho, tinha bastante restrição do mercado. Como é isso? O que vão falar com os jogadores? Por que vai falar com o jogador o que ele precisa melhorar? Ele não vai aceitar... Acho que tinha muito dessa cultura a ser quebrada e foi. Dessa última convocação da Seleção, de 22 ou 23 nomes, eu diria que entre 12 a 15 têm esse serviço — afirmou Diego.


Ícaro Caldas começou a se interessar por tática em 2016. Torcedor do Vitória, ele sentiu a necessidade de entender melhor o jogo e passou a estudar. Além do clube do coração, ele concentrava as análises na Seleção e no Manchester City. Por falar muito do clube inglês, Ícaro passou a ser seguido por Fernandinho, de quem se aproximou. Com a popularização dos conteúdos, foi chamado para ser analista do Brasiliense. Atualmente, além do clube, também trabalha de maneira individualizada.


Entre os nomes que trabalharam com ele, estão Wagner Leonardo, hoje no Grêmio, e o goleiro John, atualmente no Botafogo mas na época no Inter, entre outros. As sessões duram geralmente 30 minutos, nos quais são abordadas as partes ofensiva e defensiva da partida anterior, o que poderia ter sido melhor e os elogios ao que funcionou. Depois passam para a análise do próximo adversário. Com zagueiros, por exemplo, o relatório mostra os atacantes titulares e quem pode ser opção para o jogo, além de vídeos, mapa de calor, as características boas e ruins dos atletas e dos rivais.


— Eles dizem que esse tipo de análise é bem detalhada. O Wagner fala que todos os jogadores sabem o que precisam melhorar. Só que às vezes eles não têm o vídeo detalhado com as necessidades. Quando chegamos com essas informações, como a melhor forma de fazer um domínio, por exemplo, ele fica com isso na cabeça e tenta reproduzir nos treinos ou nos jogos. Ao Rafinha, do Amazonas, mostrei situações em que ele ia contra o lateral oposto, e, em vez de ir para o mano a mano, jogava a bola para trás. Geralmente eu congelo a imagem, faço o desenho dos espaços e pergunto o que poderia ter feito. Faz eles refletirem. Poderia ter ido para dentro, levado para a linha de fundo e cruzado, ido para dentro com o drible. No geral eles são bem humildes, escutam e reproduzem — disse Ícaro.


Abner Tobias é o fundador da The Net Scouting, outra empresa da área de análise que atende nomes como Hugo Souza, do Corinthians, Lázaro, do Almería, Vitão, do Internacional, e o atual Rei da América, Luiz Henrique, campeão da Libertadores com o Botafogo e agora do Zenit. Com o atacante, que demonstrou interesse em aprender, o acompanhamento começou no primeiro jogo diante do Palmeiras no Brasileirão de 2024, em julho, e não parou mais.


— É muito importante pra mim. Me ajuda muito sobre os adversários, os espaços que posso atacar e onde o adversário tem mais dificuldade de marcar. Saber os pontos fracos e os pontos fortes dos rivais. Isso vem sendo muito importante para mim no dia a dia, nas partidas. Eu procuro evoluir a cada jogo e este trabalho está sendo importante — disse Luiz Henrique ao ge.

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